A Igreja Sofredora
Segundo John Pitt*, “a perseguição
revela os verdadeiros seguidores de Cristo. Os cristãos só de nome fugirão
dela. Somente os dedicados permanecerão. Na história dos mártires é
impressionante ver como enfrentaram a morte cheios de coragem. Encaravam a
perseguição como uma honra e não como uma punição”. Isto pode ser observado
claramente na vida dos cristãos do primeiro século que enfrentaram a fúria dos
inimigos da fé evangélica (At 5.41). Vale lembrar ainda a atitude do primeiro
mártir do cristianismo, Estevão, que aliás, deve ter sido um dos primeiros a
ver o Cristo Glorificado (At 7.54-59). Não o vemos praguejar ou lançar palavras
de maldição contra seus algozes, mas sim pedir a Deus que não os considerassem
culpados (At 7.60).
Em seu livro “Os amigos de Jesus”, publicado pela CPAD, E. Percy Ellis
chama o apóstolo Tiago de “o amigo silencioso”. Tiago fazia parte do círculo de
pessoas mais próximas de Jesus, todavia, sempre em silêncio. Acompanhei as
conjecturas do autor sobre a personagem e não deixei de sentir um aperto no
coração ao ler o fim da trajetória desde discípulo pouco conhecido. O Mestre
investiu todo seu amor e dedicação, fez questão de tê-lo sempre muito próximo. A
princípio imaginamos que este seguidor silencioso seria um dos grandes líderes
de sua época, tais como Pedro ou João. Mas, ficamos surpresos ao lermos Atos
12.2. Tiago foi o primeiro dos apóstolos a ser martirizado e pouco sabemos do
restante de sua história. É assim também em relação a muitos de nossos irmãos
que, por amor a Cristo, têm sido brutalmente assassinados ao longo dos séculos.
John Pitt também relata em seu livro
“Quando vem a perseguição”, que o irmão André, fundador de Portas abertas, em
uma de suas viagens à Europa Oriental foi inquirido sobre a perseguição aos
crentes em seu país, a Holanda. O irmão André sorriu e disse: “Não, os cristãos
não são perseguidos em meu país”. O pregador, com um tom de incredulidade na
voz, insistiu: “Ninguém ali é incomodado por causa de sua fé?” Irmão André respondeu:
“Não, ninguém”. “E por que não” – quis saber aquele homem. “Porque temos
liberdade religiosa” respondeu André. Então aquele pregador da Europa Oriental,
não satisfeito, perguntou: “E o que vocês fazem com 2 Tm 3.12?”. Envergonhado,
o irmão André procurou a referência, e após lê-la disse bem baixinho: “Nada,
nós não fazemos nada com esse versículo.” Podemos notar que esta história se
parece muito com o que vivenciamos hoje no Brasil.
Por que não somos visivelmente perseguidos? O texto
citado diz: “De fato, todos os que desejam viver piedosamente em Cristo Jesus
serão perseguidos” (2 Tm 3.12). A Palavra diz “todos”, não há exceção. Então, talvez
não estejamos sendo piedosos o bastante. “Há um preço a ser pago e não queremos
pagá-lo. Preferimos o cristianismo barato”. Relutamos em sair de nossa zona de
conforto. Não precisamos ir longe, basta lermos a lista das pessoas e
instituições mais influentes de nosso país hoje para percebermos que falta
alguma coisa. Certo pastor disse: “Se você não influenciar as pessoas com as
quais convive, certamente será influenciado por elas”. Portanto, fica a
reflexão.
Discorrendo sobre
a Igreja Sofredora, John Pitt afirma: “Os governos ateus pensam que o
cristianismo poderá ser completamente erradicado. Portanto, esforçam-se por
restringir a liberdade religiosa de várias maneiras: 1) As igrejas e seus
membros têm de ser registrados. Isto permite ao Estado controlar as funções da
Igreja e familiarizar-se com o rol de membros. 2) Os cristãos são autorizados a
falar do Senhor só dentro dos edifícios das igrejas registradas. A
evangelização é proibida. 3) Os cristãos estão proibidos de ensinar religião às
crianças. Escolas dominicais e movimentos de jovens não são permitidos. 4) São
dados aos cristãos os empregos menos desejados e não se permite aos jovens crentes
uma educação universitária.” Por estas razões, há milhares de cristãos que
preferem sofrer a comprometer-se com um governo ateu.
Tudo isto pode parecer distante da realidade que vivemos
em nosso país. Mas, sabemos que existem projetos de leis no Congresso
objetivando, por exemplo, tributar as rendas das igrejas. Não seria este um
primeiro passo para que o governo tenha controle sobre as igrejas? Esta é uma
questão delicada e que possui defensores até mesmo dentro da comunidade cristã:
“Só assim saberemos o que acontece com o dinheiro arrecadado pela igreja e sua
destinação” defende alguém, citando ainda como argumento os vários escândalos
públicos envolvendo algumas denominações evangélicas de nosso país.
Talvez estejamos abusando de nossa liberdade religiosa e
não a utilizando como deveria, ou seja, para propagar a salvação através de
Jesus Cristo. Há ainda um grande movimento para proibir a igreja de pregar
contra o pecado, como o homossexualismo. Não é de hoje que a mídia defende e
dissemina várias práticas contrárias à sã doutrina, através da literatura, da
música, de filmes, novelas etc. E nós como igreja, o que temos feito? Temos
dito a mesma postura da igreja de Esmirna ou nos assemelhamos a Pérgamo?
Quando chega a perseguição, “crentes de diferentes
denominações encontram sua unidade em Cristo. Não há mais encontros de comitês,
diferenças interdenominacionais ou poderes políticos. As pessoas já não
perguntam umas às outras a que igreja pertencem: não há mais igrejas. A
pergunta é: “Você pertence a Jesus?” Formas de reuniões tradicionais
desaparecem. Cada cristão assiste ao culto para servir e compartilhar”, afirma John
Pitt.
Sei que é lamentável o que temos presenciado em nossos
dias, neste país tão abençoado por Deus. A TV Boas Novas exibiu recentemente em
seu programa “Cabeça Pra Cima” um debate sobre a crise de liderança cristã no
contexto atual. Certamente muitos cristãos entendem que vivemos este momento de
crise no segmento evangélico.
Por fim, é oportuna a exortação de John Pitt, que
trabalhou durante muitos anos no Vietnã, Laos e Camboja, presenciando fatos e
relatos de severa perseguição à Igreja: “Precisamos ver além de nossa própria
igreja e estar interessados no reino de Deus. Devemos dar nossas mãos, em
comunhão uns com os outros, em vez de brigarmos. Em lugar de perseguirmos uns
aos outros, deveríamos estar lutando contra nossos inimigos comuns: os poderes
das trevas”.
Israel Oliveira**
* PITT, John - Quando vem a
Perseguição. 3. ed. – Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus,
1981.
** Arquiteto e Urbanista. Membro da
Assembleia de Deus em Palmas/TO.
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